Mafalda Veiga, "Grito"



Frida Khalo
Meu Deus, se nos velas
Diz-nos o que é que nos separa
E porque é que o sol demora
Atrás da colina escura
Anda dar luz ao caminho
Que a gente assim desespera
É como sonhar sozinho
Como se o mar fosse raso
E o céu não tivesse altura

Sempre no silêncio
Dá gozo a voz deste chão
Mas ainda me dói a alma
Na dor do corpo e das mãos
Tenho medo deste frio
Que à noite sinto no peito
Como se andassem cavando
Como se andassem fechando
Buracos de solidão

A gente não sabe
O que há depois do horizonte
A gente é um vulto curvado
Com uma sombra defronte
A ouvir rumores na distância
A sentir dentro um segredo
Feito de sonhos calados
Feito de braços fechados
Num poço fundo de medo

Anda dar luz ao caminho
Que já nos dói a demora
É como sonhar sozinho
Um sonho que nunca vinga
Num grito que nunca chora

Lindo poema de Mafalda Veiga

Natália Correia, "Dedicação"



A ti, Mãe, primeira maravilha dada aos meus olhos,
eu dedico estes poemas.
Subida da tua carne, a minha luz pertence-te.
Toma a minha dor e a minha alegria e este desespero
que floresce à sombra do teu mistério.