Chico Buarque de Hollanda, "Sonhar"

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Sonhar…
Mas um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.

Florbela Espanca, "Longe"

Imagem0011(Fotografia: C.F.)


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
*
Florbela Espanca

Cassiopeia... (Entre o Direito e a Poesia )


Num certo dia (corria o ano de 1996…)  dirigi-me à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra em busca de uma obra da autoria do Senhor Professor Doutor Orlando de Carvalho, quando, a dada altura, me deparo alegremente com uma sua obra poética. Um poema, em particular, fascinou-me a ponto de o musicar… tendo-o preservado até hoje como uma preciosidade  que agora publico para que outros dela possam também desfrutar. Na convicção, porém, de que o poema, bem como a ilustre pessoa do seu autor, mereceriam sempre melhor…
Eis o Poema:
Quando os cutelos de sombra
Abordarem a planície
Se te vierem dizer
Que eu te disse
Que eu te disse
Que aquela flor lanceolada
Não resiste
Não resiste
Como uma estrela fechada
Como uma noiva deitada
À espera da madrugada
Mais verdadeira que existe
Se te vierem dizer
Não olhes a cassiopeia
Mas deita-te meu amor
Na ponta de cada veia
E encosta o rosto na terra
Que a lua fria incendeia
Silva encostada ao silencio
Ouvindo a sombra do vento
Sobre a areia
Sobre a areia
Sobre a areia

Eis a composiçao: