"Il Postino", Cinema |
Beatriz,
Hoje não quero sonetos
Quero desfazer poemas
Arruinar palavras ordeiras
E perfilá-las no (des)oriente da imaginação.
Beatriz,
Perfilá-las assim desperfiladamente
Porque o que eu quero mesmo
É destruir somente
A parte da palavra que não sente
Aquele pedaço de letra que desmente
A alma de quem escreve.
Beatriz,
Bem sabes… um poema
Que não tenha alinhamentos, nem pontos
Nos pensamentos, nem nos is dos “is”igentes
Não sou uma máquina de produzir "mentáforas"
Impertinentes.
Mas, um poema assim como num futuro antigamente
Que não se sente, que de si próprio duvida e a si
Mesmo se desmente
Um poema claro mas declaradamente
Liberto de (fitas) métricas, progredindo
Em direcção ao espaço sideral
Onde as letras mortas e as línguas antigas
Jazem em forma de estrelas.
E aí, com sua bênção estelar, desenvolver
Uma nova poética, a poética da
Desordenação das palavras,
A poética sem métrica e sem formas,
Que é o mesmo que dizer sem rodeios…
Enfim, Beatriz,
Queria, se possível,
Um poema que nem tivesse palavras...
Como tu e como eu
Poemas que o são
Sem precisarem de ser mais nada...
(Mas, não prescindo de sonetos)
Adeus
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