Segredo-te



Segredo ao teu ouvido 
O silêncio das manhãs enfeitiçadas por luz 
E tu segues o meu olhar como quem busca um Deus 
Eu não profetizo a beleza que te conto 
Vejo-a como quem acredita no vento, 
E na existência do amor 
Vejo-a como quem acredita no Tempo...
(Que tudo purifica...)
Segredo ao teu ouvido 
O silêncio dos nenúfares a vogar 
E sei que não entendes, 
Porque para ti as flores não têm alma 
Mas eu digo que nós somos a alma das coisas 
O términus de todos os significados 
Em nós desagua o simbolismo da vida 
Não há quem entenda 
Eu segredo ao teu ouvido 
Não porque entendas, 
Mas para que entendas 
Eu segredo-te 
As metáforas imprecisas 
Dos motivos e dos porquês 
E tu debruças-te como se 
Pela primeira vez 
Sobre o lago da existência. 
Mas a essencial pergunta não te ocorre: 
Não vês que é no vagar e no silêncio que se morre? 
Não vês que sou eu que não entendo? 
Não vês que eu sou uma pergunta irretratável? 
Não vês que eu não tenho respostas?
Por isso me nutro de beleza e de silêncio:
- As únicas coisas do mundo que não precisam explicação,
  espelhos que são a minha casa.