Pedro Homem de Mello, "Poema de Natal"

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O Presépio
Duas tábuas...
E era um berço!

Estaria Deus lá dentro? 
Tudo escuro...
E alumiava!

Fomos a ver...
E lá estava!


                                                                                                    Pedro Homem de Mello

Eclesiates "O futuro..."

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“O futuro pertence a Deus - "Mais vale o fim de uma coisa do que o seu começo, e a paciência é melhor do que a pretensão...Não digas: " Porque é que os tempos passados eram melhores que os de hoje?" Não é a sabedoria que te faz levantar essa questão. A sabedoria é boa como uma herança, e útil para aqueles que vêm o Sol, pois vive-se à sombra da sabedoria como se vive à sombra do dinheiro. Mas a sabedoria é mais vantajosa, porque faz viver quem a possui."
Eclesiastes 7, 8-14

Gilbert Bécaud, canta "L'indifférence "

L'indifférence 

(clique para ouvir)

*

Les mauvais coups, les lâchetés
Quelle importance
Laisse-moi te dire
Laisse-moi te dire et te redire ce que tu sais
Ce qui détruit le monde c'est :
L'indifférence


...

Carla Furtado Ribeiro, "Sexto Sentido"

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(Regata dos Grandes Veleiros - Aveiro)


Sexto Sentido

no ermo de mim eu me coloco
em ponto de asa delta sobre o mundo

que avisto

do pórtico da minha enseada

não sei de onde venho nem por onde vim

só sei que
quando dei por mim
já pairava
sobre o negrume da terra
que me nascera do nada

quatro pontos cardeais
sinais em cruz
no pó
das minhas mãos assinalados
mil rumos que percorra estão gravados
na pedra cardinal que existe em mim

não sei de onde venho nem por onde vim

só sei que
quando dei por mim

já pairava

sobre a distância que havia

entre este mundo e o nada

*


Garcia Lorca, Poema


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Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

Mafalda Veiga, " Pássaros do Sul "



o bando debandou
subindo do arvoredo
do vácuo que ficou
no fim do seu degredo
as asas abrem chagas
no acinzar do entardecer
e amansam a agonia
do dia a escurecer

ensombram a ribeira
e o verde da seara
e passam pela eira
em que o sol se pousara
nas gotas do orvalho
luarento e vacilante
refrescam o cansaço
e dormem um instante

pássaros do sul
bando de asas soltas
trazem melodias
p'ra cantar às moças
em noites de romaria
em noites de romaria

no adejo da alvorada
oscila a minha mágoa
o céu à  desgarrada
irrompe azul na água
e a passarada acorda
no sonhar de um camponês
e entrega-se no sul
do frio que à  noite fez

É tempo da partida
e a côr do horizonte
adensa a despedida
e o borbotar da fonte
as asas abrem chagas
na poeira o sol acalma
num agitar inquieto
que me refresca a alma

pássaros do sul ...

Haruki Murakami, "A Tempestade do Destino"

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. 

Ortega y Gasset, "O Destino de Cada Homem..."

No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade. Por esta razão Schlegel dizia, invertendo a relação entre voluptuosidade e destino: «Para o que nos agrada temos génio». O génio, isto é, o dom superlativo de um ser para fazer alguma coisa tem sempre simultaneamente uma fisionomia de supremo prazer. Num dia que está próximo e graças a uma transbordante evidência vamo-nos ver surpreendidos e obrigados a descobrir o que agora somente parecerá uma frase: que o destino de cada homem é, ao mesmo tempo, o seu maior prazer.

Ortega y Gasset

Dulce Pontes canta "Amor a Portugal"


O dia há-de nascer
Rasgar a escuridão
Fazer o sonho amanhecer
Ao som da canção
E então:
O amor há-de vencer
A alma libertar
Mil fogos ardem sem se ver
Na luz do nosso olhar
Na luz do nosso olhar
Um dia há-de se ouvir
O cântico final
Porque afinal falta cumprir
O amor a Portugal
O amor a Portugal!

Van Gogh, "Starry Night"


Vou guardar o teu sorriso
numa caixa pequena
como tu!
Quando estiver triste levanto a tampa
com muito cuidado para ele não fugir
... a seguir,
como que a medo,
acaricio-o com um dedo
e depois dou-lhe um beijo...
...e a minha tristeza
consome-se em desejo.

M.Guia

Pintura: "Starry Night", Van Gogh

Sempre imaginei que o paraíso seria uma espécie de biblioteca.

Jorge Luís Borges

Salvador Dali (1904-1989 - Surrealismo)

Astor Piazzola, "Balada Para Un Loco"




“Nem palavras, nem imagens suficientes, para transmitir a força libertadora desta música. Que vivam os loucos, todos aqueles que acreditaram em seus sonhos e percorreram os duros caminhos da arte, da sensibilidade e do amor…” 

Maria Bethânea & Fernando Pessoa juntos em "Imitação da Vida"

("Âmbar" era o nome do CD de estúdio. O show foi nomeado "Imitação da Vida")
Bethânea canta e declama versos de Fernando Pessoa -
Um projecto poético-musical de grande qualidade e beleza...

Nietzsche, "Ninguém pode construir em teu lugar"

Nietzsche, by ... (internet)
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida - ninguém, excepto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o.


Raul Carvalho, "Coração sem imagens"


Colagem e Pntura, Andra Haase
Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica. 
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.


António Ramos Rosa, "Cada árvore..."

Ovelha debaixo de uma árvore perto de Dorset, Inglaterra.

Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas Quando a gente as tem na mão E olha devagar para elas ...

   
Alberto Caeiro
(Num meio dia de Primavera..)

Aos meus Pais 

Cecília Meireles, "Búzios somos moendo a vida"


Buzios Men, Dominique Landau

Por que me falas nesse idioma?
perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.