e.e.cummnings, poemas

e.e.cummings, auto-retrato
Sonetos/Irrealidades

pode não ser sempre assim – digo: e se
seus lábios que tanto amo tocarem
outros lábios
e seus dedos tão queridos
forte comprimirem outro coração
– como o meu, num tempo não distante
se a pele de outro rosto, macios seus pelos
roçarem
num silêncio que bem sei ou
ao som de palavras contorcidas
– em voltas, volutas, rodopios –
desamparadas à face do mar
se assim for – digo: se
assim for – amor,
conta-me em breves palavras
que voarei até ele
para – mãos dadas – dizer:
aceita toda esta alegria
que te dou
e voltando meu rosto hei de ouvir
um canto
de pássaro na distância
infinita das terras perdidas

Tradução: Johnatan Lira 


Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso

que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas 
aves que são os segredos da vida 
o que quer que cantem é melhor do que conhecer 
e se os homens não as ouvem estão velhos 

que o meu pensamento caminhe pelo faminto 
e destemido e sedento e servil 
e mesmo que seja domingo que eu me engane 
pois sempre que os homens têm razão não são jovens 

e que eu não faça nada de útil 
e te ame muito mais do que verdadeiramente 
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse 
chamar a si todo o céu com um sorriso 

E. E. Cummings, in "livrodepoemas" 
Tradução de Cecília Rego Pinheiro

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