Vou dizer-te com silêncio.
Sim, silêncio, porque quando se está muito próximo
todos os sons perdem o sentido.
Nem a música,
nem a mais leve vibração te nomearia agora.
Tenho um feixe de electrões estancados
nos lábios, erradicando o erro da luz.
Poderia ter uma palavra, uma palavra pérola, pálida,
polida, porcelânica, poderia
ter um pequeníssimo sopro terso – mas não.
Precisamos do erro posterior
ao ocaso
para beber o silêncio por um copo
com o céu por abismo e a terra por céu.
Colho uma rosa à noite,
com uma colher, à voltagem e à ordem
onde se movimentam
as pétalas molhadas
do vapor da cúpula, uma rosa levemente cansada
de girar a sua cauda
e verto-a assombrosa e cuidadosamente
ao copo em fervedura azul:
Bebemos chá de rosas em silêncio.
Depois, no livro que está sempre
sobre o pano azul da mesa eu leio os versos,
tu lês os números -
E todo o oceano dos mundos
exala um perfume rubro a rosas
aquele perfume que arde sempre nas rosas
mais rubras.
--
@Ana Pinto [Todos os direitos reservados]
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