J. L. Silva , "Os dias parecem tão iguais"


Os dias, esses pássaros amarelos,
parecem tão iguais
Parecem indiferentes ao bem e ao mal
os dias que nascem solitários 
do outro lado do círio aceso da aurora
e da vida que se debruça à janela
Um vento leve leva as palavras,
sonolentas,
sem nehum destino
É cedo para que se diga
que a vida não vale nada
É cedo para se bater à Porta da Verdade
É tarde para se apagar o antigo nome,
o antigo e inelutável sonho

Os finais de tarde apagam-se em azuis 
e dourados,
tendendo a vermelho,
mas nem por isso descuida-se do gesto
que, lentamente, trará a noite imensa
sob a sombra de uma folha,
sob o aroma dos lírios
A noite estilhaça o vítreo 
incandescente das estrelas
e o céu, suspenso por cordões de marionete,
transborda de pontinhos úmidos de azul
e de eternidades 
Pululam estrelinhas na noite 
enquanto o poema espera 
pelo sensível momento da flor,
da rosa que se desvela em arabescos
prateados pela ternura da lua

É cedo para dizer que a vida é um breve 
e irremediável sonho inútil
que põe esta lágrima nos meus olhos,
deambulando pelas velhas ruas tímidas
e inauditamente tristes
É cedo para pedir à sina (esquiva) que
leve esta tristeza que me permeia
como o perfume de sândalo e de saudades
É cedo para tentar entender a fábula
contida no vento e no orvalho
que amanhece nas folhas e nas pétalas das flores

Viestes ver a manhã que apascenta
as brancas nuvens tecidas em mármore?
Viestes ver a manhã amarela
e os campos onde sonham os girassóis?
À noite eram outros os sonhos,
densos e sincopados
Na noite retinta assomam os olhos
medievos 
esquecidos no passado
A estrela cadente resvala pelo espaço
incendiando
o céu em seus rumores de brasas
calcinando o instante, 
marchetando os sonhos 
Faço o meu pedido, contundente como
o barro da infância,
inaudito como o murmúrio das noites
e o silêncio dos caminhos intangíveis
Só a estrela me ouve...
Ao meu pedido
e ao som dolente da flauta que vinha
com as noites incertas e silentes

Só a estrela...

Em palavras de criança tudo pode ser pedido enquanto a estrela cai


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